O Regresso

Estar de volta à minha terra natal e sentir-me estrangeiro era algo que não estava à espera…
A formação do Inov preparou-nos para a partida e vida no estrangeiro.
Tivemos palestras sobre o relacionamento com novas culturas, as diferentes fases durante a nossa estadia, como interagir com as diferentes personalidades que iríamos encontrar, entre outras…
No entanto nunca nos foi falado de como seria o regresso…
Nunca nos foi apresentado nenhum conceito ou ideia de como seria retornar ao nosso ninho…
De como seria voltar…
Voltar a Lisboa foi voltar a uma cidade nova… Apesar de a conhecer por inteiro, agora vejo-a com outros olhos…
Consigo agora vê-la como os turistas a vêem, fresca e nova a cada canto…
As diferenças sócio-culturais estão agora mais claras mas sociedade lisboeta é-me agora mais complexa e desconhecida…

A família e os amigos seriam os meus alicerces neste regresso a terras lusas, mas até esses sofreram alterações…
Pessoas que desapareceram do meu espectro de ligações, outras que surgiram de forma abrupta e surpreendente, umas revelaram-se frágeis e efémeras no meu mundo, outras fortes e eternas…
Sinto o meu circulo preenchido com pessoas realmente importantes e maior no seu número…
Sinto amizades longínquas que recusarei que o tempo me faça esquecer…

O regresso não é simples nem fácil…O regresso é voltar a partir para o estrangeiro…

6 meses acabaram…

Os 6 meses do Inov acabaram…
Os 6 meses de viver em Londres acabaram…
Os 6 meses de viagens acabaram…
A última semana foi passada a queimar os últimos cartridges
Percorremos pub’s, festas e paródias numa luta desenfreada para aproveitar ao máximo os últimos minutos em Londres, todos juntos… A batalha parecia ser injusta porque um sentimento de impotência perante o inevitável acompanhava-se pela inércia que sentíamos sabendo que dentro de pouco tempo tudo aquilo terminava…

Focando nos últimos dias, Sexta fomos ao local de passagem de testemunho, ou por outras palavras, a mudança de reinado C12 para o C13, a discoteca Shunt.
Trata-se de uma discoteca na estação de comboios de London Bridge e que apesar da sua porta pequena e discreta, na verdade, esconde um mundo imenso e peculiar.
A sensação ao entrarmos neste espaço é de estarmos a entrar numas catacumbas da Idade Média de um antigo castelo com uma decoraçao inexistente e de paredes feitas de pedra frias e escuras…
Uma pequena sala revela-se em que a música é feita pelos próprios clientes, isto é, folhas com a letra da próxima música são passadas pelos clientes e, acompanhados por um piano, todos se tornavam protagonistas musicais…
Depois de continuarmos a nossa travessia por entre túneis e arcos escuros, com peças de arte literalmente macabras, como uma taça com um liquido idêntico a sangue, encontrámos uma funcionária numa esquina que aponta o caminho a seguir… A música e o barulho da multidão começa agora a ser audível…
Ao entrarmos finalmente no espaço de bailarico, a música dos anos 60 e 70 fazia prever uma noite bastante divertida e animada.
O T. teve a excelente ideia de trazer uma garrafa dentro das calças o que possibilitou uma rápida e fácil adaptação à música e ao ambiente…
No final da noite aconteceu-me algo que nunca me tinha acontecido em 6 meses… Adormeci no autocarro e saí na ultima paragem com o motorista a acordar-me… Valeu-me ter apanhado o autocarro que acaba não muito longe de minha casa…

A noite em si, foi mais uma das nossas… dos London Legends

Sábado foi dia de barbecue… dia em que a ressaca de sexta parecia assombrar a nossa despedida mas Sábado apresentou-se quente e radiante… Depois de compras de última hora, de variados kits na Primark, a festa estava para começar…
Vestidos a rigor, eu e o T., anfitriões da festa de despedida, não estávamos propriamente com o espírito de festejo, e isso era notório tanto para um como para o outro… Palavras de apoio, conversas sobre o que tínhamos passado, como veteranos de guerra, e o abraço eventual foi o que mais se passou na festa…
Foram trocados cartões e pequenas lembranças, com votos de voltarmos a estar todos juntos um dia…
3 garrafas de champanhe depois, a festa acabava, o T. partia para o aeroporto e eu preparava a minha mala para o dia que se seguia…

Os 6 meses acabaram…
Os melhores 6 meses da minha vida acabaram…

Como funciono...

À medida que vou ultrapassando os diferentes estádios na minha vida, começo a aperceber-me de algumas formas do meu funcionamento que outrora não eram claras para mim…
Cheguei à conclusão, à pouco tempo, que passo por 4 fases aquando planeio a minha vida…

A primeira – Ansiedade – é caracterizada pelo chamado estado pseudo-ansiólitico em que fico enquanto espero que uma nova experiência ou situação se apresente e se revele.

No entanto, ao alcançar esse objectivo passo para a segunda fase – Insatisfação – isto é, fico contente por um curto espaço de tempo, mas fico insatisfeito rapidamente, porque ao ter atingido o meu alvo, preciso de encontrar quase de forma imediata algo para preencher o espaço vazio deixado pela primeira fase.

Esse espaço é então ocupado pela terceira fase – Medo – ou talvez só preocupação pelo desconhecido, ou seja, meti-me numa situação nova, e só depois de estar realmente garantida penso se será mesmo aquilo que quero, ou como será, como terei de agir e se serei feliz com a decisão tomada.

Estranhamente entro na quarta fase – Próximo passo – em que todo o processo recomeça, em que procuro alternativas ou planos B’s, para ter o cérebro ocupado e de consciência tranquila que estou a pesquisar hipóteses e cenários variados.
Apercebo-me finalmente que sou insatisfeito por natureza.
Se alcanço algo, sem comando sobre os meus raciocínios, um sentimento de “se cheguei aqui, porque não tentar chegar ali…” toma conta de mim; tira-me sono, ocupa-me os sonhos e manifesta-se constantemente ao longo do dia…

Um dia desiludo-me, e sei disso, mas até lá…

Londres mudou-me

Não incluo este post nas rubricas "Mas Londres é isto" porque de facto não se trata de um episódio isolado mas o colmatar de toda uma experiência nesta cidade que não dorme, neste local onde tudo acontece e onde tudo existe.

Londres mudou-me pela sua abertura de espírito e atitude.
Interagir e falar com pessoas aqui é muito fácil, e não me estou a referir aos engates, que sim também os considero mais fortuitos, mas não o que mais diferenciam esta metrópole.
A minha noção da frieza inglesa caiu por terra aquando em contacto com os nativos da ilha, a sua amabilidade e disponibilidade ultrapassaram as minhas expectativas, traduzindo-se na simples vontade de ajudar.
É mais comum, porém, ouvir na rua uma língua estrangeira ao invés do esperado inglês, pedir direcções na cidade é perguntar a um espanhol, búlgaro, sueco ou brasileiro por onde ir na capital inglesa. Estes levam-nos pela mão se necessário e é um facto que penso dever-se porque numa dada altura, num dado momento das suas vidas, também eles se sentiram perdidos na imensidão de Londres e na sua agitação constante.
O humor britânico já é famoso mundialmente, mas o que eu não sabia, é que trata-se de um sentido de humor apurado e generalizado, ou seja, aquilo que vemos nos míticos filmes dos Monty Python são de facto o género de piadas que oiço todos os dias sobre os mais variados temas, desde a morte, a religião, o sexo, etc…

O meu contacto com a música Londrina passou pela passagem dos vários nightclubs mas também pela ida a alguns concertos, como o de Mark Hole, um artista na tentativa de ascenção mas com um som diferente e letras peculiares, mas também com os mais conhecidos Blur e Crystal Castles.

As houseparties, conceito ainda um pouco embrionário em Lisboa, acontecem uma vez por semana, pelo menos. O bom tempo que se faz sentir é a desculpa perfeita para os barbecues em que toda a gente é convidada e incentivada a trazer amigos. São sem duvida grandes paródias nas mais variadas línguas, com peripécias de todo género, como por exemplo, nesta ultima, um espanhol encostou-se a uma vela e como nos filme fez o lie down and roll around para apagar o fogo que se começava a espalhar nas suas costas.


Londres mudou a minha maneira de vestir, visivelmente observável pelo facebook, e várias vezes comentado pelos meus mais queridos(as), com a introdução das gravatas, coletes e chapéus. Os ténis passaram dos All Star, que ainda uso em dias mais descontraídos, para o género de ténis mais smart casual, que agora já pertencem aos meus conjuntos predilectos para sair à noite. O cabelo voltou a crescer, deixando o look de cabeça rapada para penteados mais extravagantes, tal como a barba, que outrora não existia e que agora já faz parte da minha imagem.

Os meus próprios sentimentos e a forma como lido com eles mudaram.
As amizades que travei em Londres são intensificadas pela sua variedade e necessidade de relacionar-me com pessoas diferentes. A minha vizinhança foi, sem duvida, um dos principais factores pelo sucesso da minha experiência londrina, em Smallbrook Mews, guardarei com carinho as muitas conversas e pints que partilhei com a Filipa (PT), Sara (ES), Elisa (IT), Linda (IT), Andrew (ENG), Tom (ENG), Marion (FR), Pedro (PT), Raj(AUS), Brian (EUA), Cambell (ENG), Sid (IND), Jeff (USA), entre outros... De entre todas elas, levo a frase que mais me marcou: “Miguel, tu haces amigos até en el desierto, no te preocupes.”, que me fez sentir realmente querido neste grupo de bairro mas também como um voto de confiança para o meu futuro ainda incerto e escondido.
Sinto que gosto mais dos meus amigos, que apesar de longe, quando falo com eles, digo e partilho mais de mim e aquilo que sinto, independentemente do assunto. Sou mais honesto comigo mesmo e mais frontal com os outros. Tenho mais vontade estar com eles, saber o que pensam e sentem, ou seja, estou mais sentimentalista, vá.
Em termos de relações familiares também mudei bastante, umas provaram ser frágeis e outras mostraram-se mais fortalecidas com a minha experiência.
Nas relações amorosas, as lições foram muitas, variadas e em diversos sentidos… Tenho dito.

Em suma, hoje sinto mais, vivo mais e quero mais…

Londres mudou-me…

Mas Londres é isto! (4) - Da Publicidade aos Psicotrópicos

O Marketing e Publicidade são mais um exemplo de áreas altamente desenvolvidas no Reino Unido, e mais visivelmente em Londres. Numa cidade altamente cosmopolita é cada vez mais difícil chegar ao consumidor e fidelizá-lo à marca e/ou produto.

Desde os anúncios de rádio e televisão aos anúncios de imprensa, a comunicação tem de ser imensamente criativa e original. A utilização das pessoas mascaradas na rua com cartazes já quase que caiu em desuso apesar de ainda ser bastante cómico. E o já não tanto recente conceito de flash mobs começa a a perder a sua força se não for bem utilizado.No entanto aqui nunca sabemos quando é que haverá uma cantora de ópera no meio da estação de comboio de Paddington ou cerca de 350 dançarinos no meio de Liverpool Street Station ou alguns milhares de pessoas a cantar em karaoke, em Trafalgar Square, com a cantora Pink



Estas situações e tantas mais são prova de que as marcas, em Londres, têm de se diferenciar mais do que em qualquer outra parte da Europa.

Mas escrevo-vos não para descarregar aqui conceitos académicos sobre como as marcas se comportam, apesar de considerar um tema fascinante, mas sim para contar mais uma história inédita, tanto quanto sei…
Numa saída pela zona Old Street, vindos do Plastic People, eu esganado de fome, convenço o resto grupo a fazer um pequeno desvio para comer um hambúrguer dos indianos, daqueles que parecem borbulhar gordura, mas que sabem como se não tivesse tido um refeição à mais de uma semana…
Atravessamos a estrada e logo a após a passadeira estava um jovem adulto, nos seus 20 e muitos ou 30 e poucos, com algum mau aspecto, a entregar cartões e pensei: “Olha, mais um pobre coitado que, até às 4 da manhã, anda a entregar publicidade…”. Por hábito, aceito o que estão a entregar por curiosidade, e dou um rápida vista de olhos para ver de que se trata, mas desta vez foi diferente…
Passo por ele e, proferindo 3 ou 4 palavras que não decifrei à primeira, entrega um cartão, do tipo cartão de visita… Agarrei no cartão, e demorando 5 segundos a perceber o que tinha dito, incrédulo voltei atrás e perguntei:

Eu – “Sorry mate, what?”
Ele – “MD or Coke, man… Call me on that number, or do want some now?”


Ri-me, agradeci a sua proposta de negócio e arranquei de novo para perto do grupo levando a boa nova… Em Londres, até os drug dealers têm de se diferenciar e encontrar estratégias arrojadas e até arriscadas para se destacarem da concorrência…
Portanto qualquer coisa em Londres, na área psicotrópica, call Tony

Mas Londres é isto! (3) - Final de semana de loucos!

Este final de semana foi simplesmente extraordinário. Extraordinário no sentido de excepcional, incomum, fora do usual, anormal… Porquê? Porque esgotei todas as minhas forças humanas e todos os meus super poderes…

Quinta-feira, dia 7 de Julho, fui ao Hyde Park por volta das 15h00 para assistir a um concerto que, para vos ser sincero, não era banda que me atraísse mas sim a experiência de ir a um concerto no tão famoso Hyde Park.
Vi bandas que adoro sem saber que lá iam estar, Crystal Castles e The Foals foram espectáculos muito bons. Pelas 20h00 já o álcool das Carlsberg’s andava a fazer os seus efeitos e o grupo português, italiano e francês onde estava inserido já dançava por tudo e por nada.
Finalmente era uma banda chamada Blur… Conhecia-lhes o nome e uma música, pensava eu, fomos para a frente do palco e para começar o ambiente era tranquilo e animado. Entraram em palco e a cara do vocalista pareceu-me familiar e de repente, sem aviso, avivou-se-me memoria, eu adorava Blur! Já não ouvia as suas músicas à muito tempo mas eu lembrei-me que adorava… Não estava enganado, penso só não ter reconhecido 2 ou 3, no entanto, em abono da verdade, também houve alturas que pensei ser o melhor som que alguma vez tinha ouvido devido às ditas Carlsberg's… Os ingleses em redor cantavam uns com os outros e connosco como se de grandes amigos nos tratássemos… Partilhámos abraços quando a música era mais calma e “moshámos” quando a música acelerava… Pulei e pulei até não poder mais, descansava 2 min, e voltava ao exercício… Foi um dos melhores concertos da minha vida… Está lá no topo com o dos Daft Punk e Prodigy (Sudoeste)…
Acabado o concerto às 23h00, e não indo trabalhar no dia seguinte, decidi ligar ao T., e saber por onde andava...
Resultado: fui a casa, tomei um duche, massajei os gémeos por 5min, e arranquei para o Vendome! De notar que as Carlsberg's ainda navegam no meu sistema a esta hora… Chegado ao nightclub, foi mais uma noite das nossas, M. e T., e sem mais nada a acrescentar…

Sexta-feira chegou o meu irmão mais velho, sua senhora e meu sobrinho por nascer! Passámos o dia às compras, com as minhas pernas a gritarem clemência e eu a agindo como surdo, continuava a caminhar a uma velocidade cruzeiro devido à gravidez da minha cunhada.
Era noite de festa novamente, e lá fui, sem descanso algum, varrer as ruas de Londres. Digo varrer porque foi das poucas noites em que andámos a passear entre bares e discotecas… desde Temple, num barco atracado de seu nome Bar(&)Co (chama-se Barco, sim), de seguida para Camden Town para uns quantos bares e finalmente para o Koko!
Chegado por volta das 5 da manhã, eu já não andava, mas sim arrastava dois pequenos troncos que outrora seriam conhecidos por pernas. Não do álcool, entenda-se, mas sim do extremo cansaço muscular!

Sábado foi dia de Portobello Market, e mais caminhada comigo… Um final de manhã e uma tarde muito bem passadas na companhia das minhas visitas com paragens regulares, graças ao meu sobrinho, por quem já tenho tanto carinho por me possibilitar algum descanso de vez em quando…
Por volta das 19h00 era altura de me juntar ao grupo para a festa de aniversário da H. em Brick Lane no 93 Feet East: tratava-se de uma festa das 4 da tarde às 4 da manhã! Foi a perfeita loucura com acessórios oferecidos por uma marca local, incluindo t-shirts, óculos à Kanye West, bisnagas e pulseiras florescentes… Eu, T. e J. combinámos que sempre que fôssemos ao bar seria para tomar um shot de tequila e um gin tónico… J. parou a meio, mas eu e o T. não falhámos e fomos mais de 5 vezes ao bar… Calculem o resultado desta brincadeira, sim…


Domingo, dia de Camden Market, novamente andar como se de uma maratona de marcha se tratasse e de noite mais uma vez, porque só em Londres isto existe, fomos sair para outra festa em Brick Lane! Desta vez porém a noite acabou mais cedo e deitei-me as 2h da manhã…

Segunda-feira, dia de trabalho, finalmente posso descansar…