Londres mudou-me

Não incluo este post nas rubricas "Mas Londres é isto" porque de facto não se trata de um episódio isolado mas o colmatar de toda uma experiência nesta cidade que não dorme, neste local onde tudo acontece e onde tudo existe.

Londres mudou-me pela sua abertura de espírito e atitude.
Interagir e falar com pessoas aqui é muito fácil, e não me estou a referir aos engates, que sim também os considero mais fortuitos, mas não o que mais diferenciam esta metrópole.
A minha noção da frieza inglesa caiu por terra aquando em contacto com os nativos da ilha, a sua amabilidade e disponibilidade ultrapassaram as minhas expectativas, traduzindo-se na simples vontade de ajudar.
É mais comum, porém, ouvir na rua uma língua estrangeira ao invés do esperado inglês, pedir direcções na cidade é perguntar a um espanhol, búlgaro, sueco ou brasileiro por onde ir na capital inglesa. Estes levam-nos pela mão se necessário e é um facto que penso dever-se porque numa dada altura, num dado momento das suas vidas, também eles se sentiram perdidos na imensidão de Londres e na sua agitação constante.
O humor britânico já é famoso mundialmente, mas o que eu não sabia, é que trata-se de um sentido de humor apurado e generalizado, ou seja, aquilo que vemos nos míticos filmes dos Monty Python são de facto o género de piadas que oiço todos os dias sobre os mais variados temas, desde a morte, a religião, o sexo, etc…

O meu contacto com a música Londrina passou pela passagem dos vários nightclubs mas também pela ida a alguns concertos, como o de Mark Hole, um artista na tentativa de ascenção mas com um som diferente e letras peculiares, mas também com os mais conhecidos Blur e Crystal Castles.

As houseparties, conceito ainda um pouco embrionário em Lisboa, acontecem uma vez por semana, pelo menos. O bom tempo que se faz sentir é a desculpa perfeita para os barbecues em que toda a gente é convidada e incentivada a trazer amigos. São sem duvida grandes paródias nas mais variadas línguas, com peripécias de todo género, como por exemplo, nesta ultima, um espanhol encostou-se a uma vela e como nos filme fez o lie down and roll around para apagar o fogo que se começava a espalhar nas suas costas.


Londres mudou a minha maneira de vestir, visivelmente observável pelo facebook, e várias vezes comentado pelos meus mais queridos(as), com a introdução das gravatas, coletes e chapéus. Os ténis passaram dos All Star, que ainda uso em dias mais descontraídos, para o género de ténis mais smart casual, que agora já pertencem aos meus conjuntos predilectos para sair à noite. O cabelo voltou a crescer, deixando o look de cabeça rapada para penteados mais extravagantes, tal como a barba, que outrora não existia e que agora já faz parte da minha imagem.

Os meus próprios sentimentos e a forma como lido com eles mudaram.
As amizades que travei em Londres são intensificadas pela sua variedade e necessidade de relacionar-me com pessoas diferentes. A minha vizinhança foi, sem duvida, um dos principais factores pelo sucesso da minha experiência londrina, em Smallbrook Mews, guardarei com carinho as muitas conversas e pints que partilhei com a Filipa (PT), Sara (ES), Elisa (IT), Linda (IT), Andrew (ENG), Tom (ENG), Marion (FR), Pedro (PT), Raj(AUS), Brian (EUA), Cambell (ENG), Sid (IND), Jeff (USA), entre outros... De entre todas elas, levo a frase que mais me marcou: “Miguel, tu haces amigos até en el desierto, no te preocupes.”, que me fez sentir realmente querido neste grupo de bairro mas também como um voto de confiança para o meu futuro ainda incerto e escondido.
Sinto que gosto mais dos meus amigos, que apesar de longe, quando falo com eles, digo e partilho mais de mim e aquilo que sinto, independentemente do assunto. Sou mais honesto comigo mesmo e mais frontal com os outros. Tenho mais vontade estar com eles, saber o que pensam e sentem, ou seja, estou mais sentimentalista, vá.
Em termos de relações familiares também mudei bastante, umas provaram ser frágeis e outras mostraram-se mais fortalecidas com a minha experiência.
Nas relações amorosas, as lições foram muitas, variadas e em diversos sentidos… Tenho dito.

Em suma, hoje sinto mais, vivo mais e quero mais…

Londres mudou-me…

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